PEDAÇOS...
Atravessei a rua com passos largos,
queria fugir,
queria voar,
queria simplesmente não sentir,
queria despir a dor
que teimava queimar-me o peito,
andei...
percorri a calçada sem destino,
as veias pulsavam,
sentia o olhar morrer
tal como a vontade de viver
desaparecia,
sentei-me na pedra molhada,
nem dei conta que tinha chovido
nesta minha caminhada,
os comboios passavam
de um lado para o outro,
fixei-me nas vidraças
tentando ver os rostos
que se esborrachavam de encontro
ao vidro...
mas...
não conseguia,
apesar de ainda ser dia
o meu olhar estava sem vida,
amparei a face nas mãos
com cheiro a erva molhada
e levantei os olhos para o céu
como que num implorar de clemência,
o dia doeu,
a noite está a ficar húmida
e a vontade de ali ficar
transbordava-me o olhar,
levantei-me,
sem saber que rumo tomar,
por momentos desejei voltar à
infância,
para sentir o cheiro da mãe,
aquele abraço quente
mesmo dito sem palavras
mas que tantas vezes
me aquecia o coração...
a face molhou-se
numa mistura salgada e doce...
desci a rua
enquanto o vento me chicoteava
a face....
a fragilidade tinha-se soltado
como suaves tiras de cetim esvoaçando,
o dia estava a terminar,
afinal,
tinha que limpar as tristezas
arregaçar o sorriso
e voltar à dura realidade,
juntar os pedaços
e …
continuar...
by me ANA BÁRBARA
2012/10/11
(imagem retirada da net)
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